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CEFET-MG

Ana Luiza de Paiva Melo e Juliana Sofia Fonseca Camargos

Última modificação: Quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Fazer um intercâmbio é uma experiência que todos deveriam ter, em algum momento da vida. É uma época muito divertida, e também de muito crescimento e aprendizado. No nosso caso, participamos de um intercâmbio acadêmico em que frequentamos as aulas e desenvolvemos nosso trabalho de conclusão de curso em engenharia de materiais em projetos de pesquisa na Technische Universität, Berlim (TU-Berlim), em parceria com a Bundesanstalt für Materialforschung und – prüfung (BAM). Foi uma oportunidade sensacional de participar de um universo de pesquisa de alto nível, trabalhar com equipamentos de excelente qualidade e aprender com profissionais e pesquisadores experientes.

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Ana Luiza de Paiva Melo e Juliana Sofia Fonseca Camargos

Inserir-se em uma cultura diferente, entretanto, não é nada fácil. E as dificuldades vão muito além de se comunicar em outro idioma e se adaptar à comida. Claro que esse fator também impacta na adaptação, porque é preciso não só estar aberto a outros sabores, mas também lidar com a falta de comidas muito comuns no dia a dia no Brasil e saber montar uma dieta saudável com os alimentos disponíveis. No nosso caso, ficamos na Alemanha durante o inverno, período em que a variedade de alimentos é bem reduzida. Em relação ao idioma, por melhor que seja seu nível, ainda existe muito a se aprender quando se está convivendo com nativos. As dificuldades vão desde entender diferentes sotaques, até ter que lidar com pessoas que não têm paciência para falar devagar ou repetir informações, e além disso, precisar entender vocabulário técnico de uma área específica.

Comidas típicas alemãs: Bratwurst (à esquerda) e Lebkuchen (à direita)

Comidas típicas alemãs: Bratwurst (à esquerda) e Lebkuchen (à direita)

No nosso caso, precisamos nos comunicar com vários profissionais que não dominavam bem o inglês e aprender muitos termos específicos de pesquisa na área de engenharia de materiais. Além disso, as aulas em alemão também foram um desafio a parte. A dificuldade era dobrada, pois sem o domínio do idioma, entender o conteúdo da matéria não foi fácil. Em suma, esses desafios nos fizeram crescer pessoalmente e profissionalmente, dando-nos a oportunidade de descobrir muitos novos sabores e melhorar consideravelmente o alemão e o inglês.

A maior dificuldade, porém, foi nos adaptarmos ao modo de trabalhar dos alemães. O ambiente de trabalho é muito diferente do Brasil e muitas boas práticas brasileiras não se aplicam. A hierarquia e a formalidade são muito valorizadas e devem ser rigidamente respeitadas. Um exemplo é a utilização do pronome de tratamento, pois na língua alemã existem dois, “du” e “Sie”. O primeiro é similar a “você”, enquanto o segundo é compatível a “senhor, senhora”. Sempre que alguém se comunicar com uma pessoa mais velha ou de hierarquia maior, deve utilizar o pronome “Sie”. Nativos e pessoas que moram na Alemanha há mais tempo já estão acostumados a observar essas situações e usar o pronome correto, assim como todas as conjugações de verbo correspondentes para cada situação. Brasileiros, no começo, costumam ter problemas com isso, mesmo que estejam agindo de forma respeitosa, porque no Brasil não se demanda esse tipo de tratamento. Além de se usar o pronome “Sie”, também é sinal de respeito chamar essas pessoas pelo sobrenome, precedido de “Frau”, no caso de mulheres, e “Herr”, no caso de homens.

Os supervisores encorajam o desenvolvimento do trabalho de forma independente. Eles estão disponíveis apenas para questões pontuais, e normalmente demandam, por exemplo, que reuniões sejam previamente agendadas (por e-mail!) para tratar qualquer mínimo assunto. Raramente terá aquela paradinha no corredor para tirar alguma dúvida. Isso demanda mais objetividade para se tratar de assuntos relevantes, já que o tempo com seu superior é limitado. No nosso caso, assim aprendemos bastante a nos organizar, como por exemplo, levar em cada reunião uma lista impressa com todos os tópicos a serem tratados, em ordem de importância. Também passamos a ser mais criteriosas na escolha das palavras e na forma de colocar as informações, uma vez que os superiores eram bem exigentes e demandavam um nível elevado de formalidade e respeito. Por fim, também melhoramos bastante nossa forma de redigir e-mails, sendo mais formais e diretas nos assuntos. São exemplos simples, mas mostram a grande diferença cultural.

A pontualidade é muito respeitada e demandada na Alemanha, o que no começo estranha os brasileiros em geral. Reuniões começam e terminam precisamente nos horários estipulados. No começo foi um pouco difícil, mas com o tempo conseguimos nos adaptar a esse hábito e acabamos gostando muito, porque a rotina fica mais organizada quando se é pontual. E a pontualidade não se resume somente a reuniões. Os trens e ônibus sempre chegam e saem pontualmente, lojas abrem e fecham exatamente nos horários estipulados e compromissos agendados, como por exemplo, o registro na cidade e a solicitação de permissão de residência, devem ter seus horários respeitados. Dois minutos são necessários para alguém perder o agendamento. Sobre as relações interpessoais, as pessoas em geral são muito fechadas, o que costuma afetar os brasileiros. Os alemães demoram bastante tempo para se abrirem, começar algum tipo de laço e falar da vida pessoal, o que dificulta para que brasileiros façam amigos quando chegam ao país. Outro fato interessante é que as pessoas são muito sinceras, principalmente no ambiente de trabalho. Diferente do Brasil, em que os assuntos são suavizados e tudo é falado “com jeitinho”, na Alemanha as pessoas falam exatamente o que pensam de forma bem direta e clara. A impressão no início é que as pessoas são ríspidas, mas isso é na verdade a forma como a cultura se estrutura. Todos falam exatamente o que pensam e com isso as relações tendem a ser mais sinceras. Acho que essa foi uma das partes mais difíceis, mas nos ensinou muito a dizer “não” quando não queríamos ou não concordávamos com alguma coisa, sabendo que isso não magoaria a outra pessoa, e sim só mostraria nossa posição sobre uma situação.

Centro de pesquisa

Bundesanstalt für Materialforschung und -prüfung – Centro de Pesquisa

Nós amamos nossa experiência em Berlim. Ela abriu nossos horizontes de uma maneira que nunca imaginamos e fizemos esse texto para mostrar que um intercâmbio, por mais incrível, enriquecedor e divertido que seja, é um desafio, e não é fácil. Estar fora da sua terra natal exige sempre muita paciência e resiliência, porque situações novas são propostas a todos os momentos e é preciso sabedoria para lidar com todas elas. Criamos o hábito de tentar aprender algo novo todos os dias, e vamos levar toda essa bagagem para o resto da nossa vida. Agradecemos ao CEFET-MG, à TU-Berlim e à BAM pela oportunidade. Com certeza agora somos profissionais mais completas e pessoas mais preparadas para a vida.

Antes de terminar o texto gostaríamos de deixar aqui algumas dicas que consideramos valiosas para uma boa estadia e experiência durante o intercâmbio:

  • Familiarize-se com a cidade: antes de qualquer coisa, conheça a cidade para onde está indo. Pesquise na internet e converse com conhecidos que moram no local, isso tudo ajuda na adaptação. Assim que chegar, não perca tempo e saia para conhecer a cidade, utilize o transporte público, vá a pé para os lugares, conheça onde serão suas atividades.
  • Estude a língua e não tenha vergonha de falar: mesmo estudando bastante antes de ir, como falamos no texto, irão existir dificuldades. Porém, quanto mais você ouve e conhece o idioma, menor será o choque. Tire as semanas antes de viajar para ter uma imersão na língua, escute músicas, veja filmes ou séries, leia textos e sites de notícia, isso tudo irá ajudar a diminuir o impacto inicial. Ao chegar, é normal não entender tudo ou não conseguir falar, mas não tenha vergonha de tentar, de errar e pedir ajuda, a prática é a melhor maneira para o desenvolvimento de um idioma.
  • Moradia em Berlim: Quando se lê sobre Berlim logo se percebe que é uma cidade com o mercado imobiliário muito concorrido, em geral o número de pessoas a procura de um lugar para morar é muito maior que o número de ofertas. Isso faz com que os preços sejam mais altos do que de outras cidades, então não se assuste. Além disso, é bem provável que você só irá conseguir uma moradia quando chegar em Berlim, mas isso não impede que você comece as suas pesquisas antes. Olhe no mapa regiões que são interessantes para você, de acordo com o local onde serão suas atividades e opte por moradias com opções de transporte público perto. É comum ter que fazer visitas no local antes de assinar o contrato, tanto para um apartamento ou para WGs (repúblicas), e dependendo é necessário fazer várias visitas até você ser “escolhido” para alugar (sim, aqui os locatários escolhem quem irá morar com eles, por isso seja sempre muito simpático e mostre-se interessado durante a visita), então seja paciente. Por fim, tome cuidado com golpes, que são bem comuns, não só em Berlim, mas em várias cidades europeias. Não realize o pagamento nem mande cópia de seus documentos sem antes visitar ou ter um contrato do apartamento, principalmente se forem preços muito atraentes ou se a moradia estiver sendo oferecida por uma pessoa e não por uma empresa. Aqui alguns sites muito utilizados e confiáveis para buscas de apartamento.